sexta-feira, 3 de julho de 2015

Contando para meu filho sua história...


Outro dia precisei fazer um exame de sangue e levei meu filho comigo. Ao ver todos aqueles tubinhos de coleta de sangue ele falou: “Ela depois vai colocar na sua barriguinha?” Na hora a moça que estava coletando o sangue perguntou: “Tá achando que isso aqui é uma FIV?” Ri e expliquei a ela que provavelmente sim! Isso vem do livro que leio para ele. Expliquei para ele a diferença do exame de sangue para a FIV (de maneira simplificada é claro). Achei legal o comentário dele, pois significa que ele assimilou um pouco da idéia do livro que ele tem.
 
Hoje vi mais uma demonstração de como ele anda trabalhando isso na cabeça dele.  Andando de bicicleta estávamos conversando sobre a importância de “dar a mão” na hora de atravessar a rua. Ele começou a reparar que várias pessoas não tinham crianças com elas e falou: “elas não têm crianças por que não tem a célulazinha, não é mamãe?” Mais uma vez expliquei que provavelmente elas tinham sim a célulazinha, mas que não tinham crianças ali com elas por diversos motivos (pontuamos alguns). O fato é que ele entendeu a história da FIV e da falta do óvulo! Óbviamente que não no grau de complexidade que o fato envolve, mas sabe!

Aos que leram meus posts anteriores viram que eu sempre pretendi contar ao meu filho a verdade. Tenho isso muito claro dentro de mim. Não quero viver com ele uma mentira (ou omissão da verdade) até porque a chance dele descobrir a verdade no nosso caso é muito grande! Eu e meu marido somos O+ e ele é A+. Na primeira aula de genética sobre fator sanguíneo ele ia “sacar” que tinha algo de diferente.

Não queria que sua história fosse revelada numa conversa séria durante sua adolescência. Talvez eu ainda tenha essa conversa séria, mas não como uma revelação, mas como uma explicação mais detalhada de tudo. Sendo assim, resolvi comprar livros que contassem nossa história através de personagens. No Brasil ainda não conegui um livro que trate deste assunto com crianças. Fiquei sabendo pela minha prima que mora nos EUA que lá existem diversos títulos para tratar desse assunto. Resolvi encomendar 3 para ver como eram. 

Os três tratam mais ou menos da mesma forma. São bichinhos que são felizes mas que gostariam de ter um bebê. O casal conversa entre si e diz que quer ter um bebê. O tempo passa e o bebê não vem. Eles vão ao médico e a fêmea fica muito triste ao descobrir que não tem mais a célulazinha (cada livro usa um termo diferente para o óvulo e eu, bióloga que sou, uso o termo célula). O tempo passa e ela ganha uma célula! Neste caso a forma de apresentar isso varia também. Em dois deles o óvulo vem numa caixa de presente, dizendo que foi uma moça que mandou. No terceiro livro (que meu filho mais gosta) aparece uma coelhinha cheia de coelhos pendurados dizendo que ela tem muitas dessas células e que irá dar uma para a coelhinha que não tem. Confesso que nessa hora engasgo um pouco pois aquela coelhinha me incomoda. Prefiro os que são entregues em forma de presente, pois foi assim que aconteceu comigo. Não conheci minha doadora.  O resto das histórias vocês já imaginam. O médico junta as célulaszinhas, coloca na barriga da mamãe e ela engravida (como se fosse fácil assim! Rsrs). No final todos ficam muito feizes com a chegada do bebê que foi muito desejado e é muito amado! Final Feliz!

Como eu introduzi essa história para meu filho (que atualmente está com 3 anos e meio)? Eu coloquei os três na estante de livros dele. Toda noite ele escolhe dois livros para eu ler. Ele tem alguns livros prediletos, mas sempre gosta de ler histórias novas. Um dia ele escolheu a do coelhinho e eu li. Não falei nada (acho que eu precisava também me preparar!). No dia seguinte ele pediu para ler de novo. Li e continuei sem falar. No terceiro dia eu li de novo e comentei quando aparece a coelhinha chorando que era igual a mamãe, que tinha descoberto que não tinha mais a célulazinha. No dia seguinte ele pediu de novo! Acho que ele estava precisando assimilar! Neste dia ao final do livro eu expliquei que essa história era igual a nossa e que eu o amava muito! Chorei neste dia (sem que ele percebesse).  Mais um dia e li de novo, repetindo em algumas partes que era igual a mamãe. Isso já faz uns 4 ou 5 meses. Até hoje ele pede de vez em quando para ler a história dos coelhinhos, não todo dia como ele fez nesta semana, mas diria que o livro dos coelhinhos está entre as histórias prediletas dele! Os outros dois livros eu li para ele e ele assimilou que era igual a coelhinha, mas não deu muita bola para os livros.

Acho que está sendo uma boa estratégia pois para ele isso é natural (na verdade acho que pensa que todas as crianças vez de tubos de ensaio). Aos poucos vou explicando para ele outras coisas, mas sempre que o assunto surge. Espero que dê certo!

De uma coisa eu tenho certeza! Ele se sente muito amado e isso basta!!

 

Coloco aqui as capas dos livros que comprei!
 
Este é o predileto do meu filho!

Este é o que eu acho mais fofo!!